A ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO... CERTO E DO ERRADO



O que vem a ser o bem?

Segundo o Aurélio, ele é a “qualidade atribuída a ações e a obras humanas que lhes confere um caráter moral. Esta qualidade se anuncia através de fatores subjetivos (o sentimento de aprovação, o sentimento de dever) que levam à busca e à definição de um fundamento que os possa explicar.”

Detalhe para o termo “fatores subjetivos” citado pelo autor.

A essa definição, equivalem-se ainda, entre outras, a virtude, a felicidade, o favor e o proveito.

E o mal, o que seria?

Ainda segundo o popular pai dos burros, o mal é tudo “aquilo que é nocivo, prejudicial, mau; aquilo que prejudica ou fere. Aquilo que se opõe (...) à virtude, à probidade, à honra.”

Da mesma maneira, segundo o nobre crítico literário, lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor e ensaísta alagoano (sim, o Dr. Aurélio era tudo isto! Vide
Wikipedia), a palavra pode ser associada a substantivos como moléstia, epidemia, angústia, desgraça, dano, calúnia, inconveniência, imperfeição.

Ou simplesmente, como está lá, “o contrário de bem”.

Mas tudo isto não é um tanto quanto vago para você?


Quer dizer que Deus, o Pai de Amor e Bondade, não queria que homens e mulheres tivessem acesso a informações tão aparentemente boas e importantes para nós?

Só?

Talvez alguém diga que o problema estava não em ter conhecimento do que era bom, mas do que era mau.

Pode ser, mas isto só responde parcialmente à pergunta.

Essa dúvida não é recente nem rara, ao contrário.

E é até compreensível, por que não?

Medir o bem e o mal não é mesmo tão simples assim.

O que é bom para mim não necessariamente é bom para outra pessoa, e vice-versa. Além do mais, o Deus em Quem cremos é especialista em fazer com que aquilo que se mostra aparentemente mau agora redunde num bem muito maior lá na frente, ou para mim ou para outros.

Era ruim, de fato, o que nos aconteceu então?

E se não acontecesse, seria bom?

Se pudéssemos escolher, o que preferiríamos?

Sei não, mas talvez escolhêssemos não saber, né não?

Enfim, bem e mal são conceitos absolutamente relativos, como também já nos antecipava o dicionário acima.

E certo e errado são, por sua vez, idéias coadunantes a essas.

Ora, de um modo geral, ninguém temeria dizer que bom é aquilo que é certo e mau o que é errado.

A idéia para o título do meu post vem daí, da coexistência dos dois princípios, do surgimento desta coexistência exatamente quando da entrada do pecado na humanidade e da suspeição deles por isto mesmo.

Quando o princípio de autoridade de Deus foi quebrado no Éden, o homem passou a ter discernimento intelectual para poder chamar umas coisas de bem e outras de mal; ou, para contextualizar aqui, umas coisas, certas, outras, erradas.

Antes disso (e este “antes” é mera licença poética, posto que não havia antes, se não havia tempo), as coisas não tinham apenas uma entre duas possibilidades: certo ou errado, bom ou ruim, bem ou mal. O que havia era tão somente a inquestionável vontade de Deus.

Quando foi dito, por exemplo, que se podia comer de toda árvore do jardim, menos uma, não havia “porquês”.

Aliás, houve sim um: eles certamente morreriam, como bem me alertou meu amigo, Roberto Soares.

Mas foi Deus Quem o deu ao homem; não o homem quem o requereu de Deus, como hoje.


Era aquilo e pronto!

E o que viesse depois, depois.

Assim era para ser.

Mas apresentado pela primeira vez a uma segunda opção, ardilosamente engenhada por quem a conhecia de cor e salteado desde a eternidade – e que sucumbiu a ela – Adão resolveu escolhê-la, como “a melhor opção” para aquele momento, coisa que ele sequer sabia, pois não tinha ainda o conhecimento do bem e do mal.

Curioso notar que, apesar de muitos quererem lançar sobre Adão a culpa única pelas desgraças do mundo, por ter sido ele o responsável direto pela decisão tomada, ninguém, entretanto, até hoje, provou que, ocasionalmente, daria rumos diferentes à história.

Todos os homens, hoje, por exemplo, têm a oportunidade de tomar decisão diferente, escolhendo a vontade de Deus em detrimento das suas, mas, ipsis litteris, seguem a mesma direção do velho patriarca.

Basta pensar na possibilidade de não ter condição suficiente para discernir entre uma mínima expressão de afeto e um gesto de traição para, isto só, desesperar-nos.

“Seria terrível viver assim!”

E com isto tornamos claro que nossa atitude não seria muito diferente da de Adão.

Pois graças a ela, hoje somos capazes não apenas de discerni-las, mas até de misturá-las sob a mesma dissimulação.

Não foi isto mesmo que fez Judas, afinal, ao sinalizar Quem seria Aquele que haveria de entregar?

Não é propriamente o bem ou o mal em si mesmos o grande problema.

Mas o conhecimento deles. Ou aquilo que eu pareço conhecer deles.

Algo que não devia estar em nosso controle, mas que pensamos estar.

O que é certo? O que é errado?

Aquilo que é certo para você, é certo para Deus, aos olhos de Quem até os anjos trazem consigo imperfeições?

E o que é errado para você, está errado para Deus, que já lançou todos os pecados no mar do esquecimento e não se lembra mais deles?

A justiça de seus atos, a que a Bíblia chama de “trapos de imundícia”, está certa?

E seus pecados, que tornam ainda mais pujantes a graça, a misericórdia e a bondade de Deus, estão errados?

Se algo que você faz é certo e dá um resultado bom, a honra é mesmo de Deus, ou sua?

Por outro lado, se algo dá errado, Cristo não vive em você?

Quando Deus permitiu o infanticídio que matou centenas, talvez milhares de crianças, de 2 anos para baixo, para que Seu Filho pudesse simplesmente crescer “em paz” em algum lugar da Palestina, aquilo foi terrível ou maravilhoso? Estava certo ou errado?

Ora, meus amados amigos e irmãos, eu poderia ficar aqui por mais “dois blogues” fazendo perguntas como essas, sem, contudo, encontrarmos, nem eu nem vocês, respostas suficientes.

Não as há mesmo.

O certo e o errado estão em Deus, pois n’Ele estão ocultos todos os tesouros da ciência e da sabedoria.

Ele é a causa primeira e a conclusão derradeira.

Deus é a resposta para nossas inseguranças.

Quanto a nós, devíamos nos calar mais.

Pois qualquer conceito nosso é suspeito, por estar contaminado com o sêmen do pecado original, o que está vivíssimo ainda dentro de cada um de nós.

Pensar em certo e errado, relacionando isto a Deus, me parece trazer à lembrança novamente ecos de uma voz que soou no Éden pela primeira vez, e fazer uma afronta, ainda que indireta, à vontade soberana de Deus.

*O negrito sublinhado acima foi acrescentado em 02 de julho de 2009, às 00:41 hs.

JACKO



Ainda sob resquícios do efeito da consternação pela súbita notícia da morte de Michael Jackson, e sem intenção alguma de ser oportunista, gostaria de repercutir aqui uma pequena reflexão pessoal que tenho sobre a figura admirável e controversa em que o rei do pop se tornou.

Sinto-me à vontade em fazê-lo, por dois motivos óbvios.

Primeiro porque sou grande fã (sim!) de Michael.

Segundo porque este blog é meu.

Mas como a proposta do blog é essencialmente cristã, não farei disto aqui um debate nem apresentarei (mais) um tratado sobre a influência de Michael Jackson na música mundial, e seu legado cultural.

É que curiosa e coincidentemente, nos últimos meses, Michael Jackson foi assunto de diversas conversas, as quais eu vinha tendo com alguns amigos. Falávamos sobre minha admiração pelo trabalho dele, da desconfiança geral que suas excentricidades sempre causavam, do constrangimento pessoal que o próprio artista deveria enfrentar depois de tantas polêmicas, enfim.

Diferentemente do que pensa talvez a maioria dos radicalistas cristãos, não vejo Michael Jackson como um símbolo e um exemplo (a não ser seguido) para aqueles que buscam satisfação nas coisas dessa vida.

Nesse particular, qualquer outro artista, qualquer outro homem serviria. É o que todos fazem afinal.


Em minha opinião, a grande questão que envolve o mito Michael Jackson é que homem algum, no lugar dele, faria qualquer coisa diferente do que ele fez.

E muitos de nós faríamos pior até.

Pense nisso.

Homem nenhum na face da Terra tem estrutura emocional, psíquica e até mesmo física para suportar sobre si a carga de ser, sem nenhuma sombra de dúvida, a pessoa mais famosa do mundo.

Tudo o que Michael Jackson fazia virava notícia, repercutia, e ou era tendência ou chocava, mas sempre impressionava, e iludia.

Toda opinião dada por ele era discutida, debatida, contestada, corroborada, reverenciada.

Imagine você.

Imagine não poder sair de casa sem que milhares de flashes pipocassem sobre você a todo o tempo, e, no dia seguinte, seu rosto (coberto ou não) estivesse estampado nos jornais do mundo inteiro, alguns com as mais esdrúxulas especulações.

Imagine não poder ir ao shopping ou ao cinema, sem ter antes de se preocupar em fechá-los ao público para poder conseguir voltar pra casa, pelo menos, com a roupa do corpo.

Imagine ter, mas não ter amigos, porque a linha entre a amizade e o interesse, nesses casos, é absolutamente tênue demais.

Imagine não poder errar, com ninguém, sob pena de ter de prestar esclarecimentos públicos e responder em juízo, porque, na verdade, aquela pessoa não foi humilhada nem lesada por você; é só mais alguém correndo atrás de levar um pouco do seu rico dinheirinho.

Imagine saber-se deus para tantas pessoas.

Imagine não poder chorar, não poder fraquejar, não poder desabafar, não ter a quem recorrer, não ter em quem confiar.

Imagine ter o mundo aos seus pés, mas passar por uma rua e, de dentro dos vidros totalmente escuros de seu luxuoso carro (que você nem mesmo pode dirigir!), ver um pai empurrando o filho num balanço de parque, enquanto a mãe prepara junto com a filha o lanche do piquenique que farão depois.

A mera idéia de Deus já nos é assustadora, como vimos aqui.

Imagine ter essa idéia acerca de si mesmo.

Enlouquece, acredite.

E é bem provável que as excentricidades de Michael Jackson e as polêmicas que o envolveram em todos esses anos sejam mais bem compreendidas agora.

Ou até desculpadas.

Afinal, a vida parece muito mais simples aos olhos dos normais.

Jacko, como era carinhosamente chamado pela família, foi um dos mais talentosos artistas que o mundo já conheceu, senão o maior deles, e mais uma vítima infeliz de seu próprio sucesso.

Sucesso que, sinceramente, não sei se ele quereria mesmo ter.

Por isto o meu respeito à família, aos amigos e aos fãs.

* 29/08/1958
+ 25/06/2009

MOONWALK

26 anos atrás...

16 de maio de 1983.

Teatro de Los Angeles.

25º aniversário da gravadora Motown.

"Yesterday, Today and Forever Show".

3 mil celebridades americanas presentes.

50 milhões de telespectadores.

Artistas como Barry White, Marvin Gaye e Temptations se apresentavam.

Quase no fim, sobe ao palco o popularíssimo Jacksons Five.

Duas canções:

“I Never Can Say Goodbye” e “I Want You Back”.

Apoteose total.

Os Jacksons se despedem.

Minutos depois volta ao palco o ilustre caçula.


Com uma misteriosa e intrigante luva branca em apenas uma das mãos, Michael Jackson apresenta ao mundo a contagiante “Billie Jean”, lançada seis meses antes.

Tudo ia muito bem, até que...

Aos exatos 3 minutos e 39 segundos, diante da perplexidade de todos, o movimento que mudaria para sempre os rumos da música pop em todo o mundo.



26 anos depois...

25 de junho de 2009.

E novamente, perplexidade total.

ACEITAR A CRISTO




Aiden Wilson Tozer disse, certa vez, que a expressão “aceitar (a) Jesus” pretendia, sem saber, sintetizar a intenção de se crer no Senhor Jesus Cristo, como descrito em Atos 16:31, e de recebê-Lo como seu Salvador pessoal, o que estaria registrado em João 1:12 (para ler o texto, clique aqui).

Pode até ser.

E como normalmente era tudo o que o Dr. Tozer dizia, sua reflexão acerca do tema é iluminadíssima.

Mas é lá também que ele afirmou que o problema na atitude de se “aceitar a Cristo” está em que ela nos coloca na privilegiadíssima posição daqueles que recebem um súplice pedido de um indigente qualquer.

Ou seja, Cristo, o indigente, está do lado de fora do nosso coração, clamando, gemendo, tremendo de frio e esperando que nossa “revelação” (leia-se “bondosa misericórdia”), mesmo reticente a princípio, resolva por fim atendê-Lo e abrir-Lhe as portas, a fim de que Ele entre, feliz e contente, para cear conosco (isto, claro!, se Ele tiver trazido tudo para o lanche).


Ora, não é mesmo isto que dizemos ao interpretar as palavras do Apocalipse, “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei e cearei com ele”?

Pobre Cristo!

Deve ser por isso que, nesses últimos dias, coitado, de tanta correria, tantos compromissos, tanta volúpia por trabalho e resultados, Sua voz mal está sendo ouvida por muitos. E ainda quando ouvida... Não há tempo para Ele.

“Tsc, tsc, tsc... Infelizmente, Ele vai ter de esperar mais um pouco.”

E o Senhor (?) segue lá... Clamando, clamando, batendo à porta...

Até que um dia, alguém nos diz: “Aceite a Jesus”. E nós, envergonhados de tamanha crueldade feita com Alguém tão bonzinho, enfim, O aceitamos.

“Ok, Jesus, eu Te aceito, e Te recebo como o meu único e suficiente Salvador!”

E Jesus deve dizer:

“Ah, muito obrigado, muito obrigado mesmo. Eu já estava começando a me resfriar. Vamos comer então?”

Que lindo, não?!

Não.

Não tem nada de lindo nisso.

“As más conversações corrompem os bons costumes”, dizia Paulo. Em outras palavras, o que isto quer dizer também é que de tanto tratarmos mal um assunto acabamos por corromper nossa prática.

Para alguns, pode ser excesso de preciosismo se importar com uma “mera” declaração de fé, afinal há tantas outras questões reais com que nos preocupar, mas para mim o problema é real, e não é exatamente de “declaração de fé” em si.

É bem verdade que o Dr. Tozer afirmou ser possível que alguém encontre em tal declaração toda a instrução e inspiração de que necessita para viver plenamente em, por e para Deus. Mas é igualmente verdadeiro quando ele chamava tal pessoa de um “penitente ocasional responsável”.

Será ocasional mesmo.

Porque a grande maioria, após o isolado gesto de mãos, simplesmente repetirá as palavras certas, sem qualquer noção exata do que aquilo deve realmente significar.

Minhas razões para afirmar isto são que é mesmo improvável alguém “conhecer a Cristo” mediante uma exposição superficial d’Ele e do Seu reino, assim como é impossível conhecê-Lo sem uma profunda revelação de si próprio, de seu pecado e de sua condição de condenação eterna natural.

Afinal, ali, nos espetáculos teatrais das nossas reuniões eclesiásticas, seja no palco ou na platéia, é fácil fazer parecer-se cristão.

Aceitar a Cristo genuinamente é aceitar seu senhorio absoluto, dando novos (e, não raro, opostos) rumos às nossas convicções pessoais e interesseiras.

Aceitar a Cristo genuinamente é aceitar sua cruz, mas isto não de uma maneira hipotética ou simbólica, como normalmente fazemos à Ceia e ao Batismo.

Aceitar a Cristo genuinamente é aceitar participar de sua dor, de seus sofrimentos e de seus interesses a despeito dos nossos e de nós.

Aceitar a Cristo genuinamente é aceitar viver como Ele, e esforçar-se nesse sentido, independentemente se isto possa parecer presunção ou loucura para alguns outros que – cheios de toda aquela justiça humana que o Senhor chamou de “trapos de imundícia” – usam essa premissa para justificarem suas vidas vazias de qualquer vestígio de piedade e reverência.

Aceitar a Cristo genuinamente é rejeitar a si completamente.

Aceitar a Cristo genuinamente é aceitar tudo o que Ele disse como verdade, sem precisar recorrer a subterfúgios hermenêuticos ou exegéticos, pois a melhor das homilias é a vida.

“Se é isto que queremos dizer quando aconselhamos alguém a aceitar a Cristo, será melhor explicar isso a ele, pois é possível que se envolva em profundas dificuldades espirituais caso não explanarmos o assunto.”
(A. W. Tozer)

A REJANE...


... metade mais linda de mim...



... minhas palavras, na voz e na belíssima interpretação de Ivan Lins.


DOCE PRESENÇA
Ivan Lins / Vitor Martins

Sei que mudamos desde o dia que nos vimos
Li nos teus olhos que escondiam meu destino
Luz tão intensa
A mais doce presença
No universo desse meu olhar

Nós descobrimos nossos sonhos esquecidos
E aí ficamos cada vez mais parecidos
Mais convencidos
Quanto tempo perdido
No universo desse meu olhar

Como te perder
Ou tentar te esquecer?
Inda mais que agora sei que somos iguais
E se duvidares, tens as minhas digitais
Como esse amor pode ter fim?

tens meu corpo, minha alma, meus desejos
Se olhar pra ti, estou olhando pra mim mesmo
Fim da procura
Tenho fé na loucura
De acreditar que sempre estás em mim

p.s.: Sabe aquelas poesias que você é que gostaria de ter escrito?

A GRANDE HISTÓRIA DO AMOR

12 de junho.

Dia dos namorados.

Inspirado pelo tema, resolvi postar aqui, em primeiríssima mão, meu primeiro - e único! - livro.

Chama-se “A Grande História do Amor”.

Uma homenagem à minha eterna namorada, Rejane.

Para lê-lo, clique abaixo.



Há exatamente um ano atrás...


A GRANDE HISTÓRIA DO AMOR

Era uma vez, o amor...

Um homem e uma mulher que se amavam.

E os dois viveram felizes para sempre.


p.s.:
Disseram-me que meu livro já nasce morto... Uma pena, não? Lamento muito... Por eles, claro!

EU NÃO ACREDITO EM ATEUS!


Fonte: Photobucket

Não nesses que comumente vemos por aí, os filosóficos, aqueles que o são por opção (ou por suposta – e suspeita – falta dela).

Esses, de fato, não existem.

São talvez meros idealistas revolucionários, militantes de uma esquerda neo-religiosa qualquer (sim, o ateísmo é uma espécie de religião também). Mas o termo que eu mais gosto, e que aprendi quando ainda criança, é biscoitos de polvilho, por fazerem muito barulho, mas não encherem nada.

Tenho meus motivos.

Afinal de contas, os ateus não acreditam em Deus, ou acreditam na não-existência de Deus?

Parece, mas não é a mesma coisa.


Se alguém não acredita em Deus, ele desconhece totalmente a existência d’Ele, pois é impossível não acreditar em algo ou alguém que, de alguma maneira, exista. Mesmo que essa existência seja meramente conceitual, como conceito, tal coisa ou pessoa existirá.

Explico (e essa vai em homenagem ao meu amigo, Tiago Lacerda, que não é
aquele, claro!).

O que é uma tiroca?

Não sabe?

Ok, tudo bem, nenhum problema.

Mas tente imaginar, pelo menos, o que seja uma tiroca.

O que vem à sua mente? Um animal? Uma planta? Uma ferramenta? Um movimento? O que pensou?

Sim, pense em algo. A idéia é esta mesma.

Bem, provavelmente cada um de vocês pensou algo diferente, e ainda que tenham pensado todos numa ferramenta, por exemplo, duvido muito que ela tivesse a mesma característica e função comum para todos.

Certamente não.

E o motivo de tanta desconexão é que a tiroca simplesmente não existe mesmo, e não há como concebê-la, senão imaginá-la apenas, e, ao fazê-lo, forçando sua concepção, o que encontramos é um mosaico de idéias fantasiosas, cada uma com a sua característica peculiar e excêntrica, sem, contudo, qualquer correspondência com uma realidade factível, por inexistente que é.

Enquanto eu não lhes descrever claramente como uma tiroca é (e eu não o farei!) ninguém saberá, de fato, o que uma tiroca é.

Essa teoria é tão óbvia que chego a enrubescer por estar escrevendo-a.

Pois bem.

A idéia de Deus, mesmo que diversa muitas vezes (malditas religiões dos homens!), tem inúmeras similaridades também – e entre os chamados “ateus”, inclusive – mas uma delas é principal, qual seja: um Ser soberano, criador e mantenedor de todas as coisas.

A partir daí, confesso que Ele parece ter (e “tem”!) uma cara mais sisuda em alguns círculos religiosos ou científicos, e outra cara bem mais bacana noutros. Sim, isto é verdade! E eu, particularmente, acredito que isto ocorra porque mente humana alguma pode conceber por si mesma a idéia completa e exata de Deus. As coisas espirituais, afinal, só se discernem espiritualmente.

Mas ainda em meio a essa tanta diversidade, a “idéia original” é sempre a mesma, e quando pronunciamos o nome “Deus”, sabe-se muito bem de Quem se está falando.

Impossível não acreditar na existência de algo que já foi fruto de uma idéia pré-concebida, de um conceito formado, de uma pessoa específica, inconfundível com nenhuma outra e previamente a nós apresentada (ainda que não totalmente).

Isto não é, absolutamente, razoável.

Assim, o que restaria é, portanto, crer, sim, mas crer na NÃO-EXISTÊNCIA DE DEUS.

Neste particular, os ditos “ateus” precisam então assumir uma fé – a da não-existência de Deus – e viver por ela.

Tal como nós, os que cremos em Deus, fazemos também, afinal.

Ora, mas só existe fé porque existe um objeto para o que (ou quem) essa fé se direciona. Não existiria necessidade se não houvesse um objeto que lhe atendesse.

Se há fome, é porque há comida. Se existe sede, é porque, em algum lugar, existe água. E se temos fé, é porque deve haver algo em que podemos crer.

Voltando ao esdrúxulo (e abençoado) exemplo criado pelo meu amigo Tiago, por outro lado, ninguém até hoje deve ter sentido falta de uma tiroca em sua vida, não é mesmo?

Hum?!

Claro, você nunca ouvira falar de tal coisa, e nem sabe do que se trata, então não há nenhum anseio voluntário interior em si mesmo(a) por tal coisa (e, com um nome desses, jamais haverá).

Não há como crer nem descrer na tiroca, porque não existe tiroca.

E tenho certeza que você acredita nisso: a não-existência da tiroca. É o que sobra.

O simples fato de haver fé – no caso dos famigerados ateus, a da não-existência de Deus – deve ser uma evidência de que há um objeto que assista à necessidade dessa fé, por mais tola que nos pareça.

Esse objeto não é uma matéria ou substância, claro, mas um conceito também, tal qual o objeto da fé cristã. Assim como a idéia de Deus, para os cristãos, não é, em si mesma, uma matéria ou substância, senão apenas um conceito ainda, a idéia da não-existência de Deus, para os ateus, também é apenas um conceito, o que, em ambos os casos, se confirmará verdadeiro ou não no final.

Podemos dizer, portanto, que o objeto da fé ateísta é algo que não seja Deus, ou qualquer coisa, fora Deus. Ou ainda, tirando o conceito (aceitável) de Deus, os ateus crêem no conceito (aceitável) que sobrou.

Por tudo isso, vemos claramente que o que o mais convicto dos ateus pode fazer é tentar crer em outra coisa que não seja aquilo (Deus) que ele próprio já aceitou haver antes, mas não quer, contudo, acreditar.

Conclui-se, por fim, que, sem perceber, a fé ateísta – de que não existe Deus – dá um tiro no pé, porque primeiro admite Deus, para depois negá-Lo.

Conflitante, incoerente e insana, por conseguinte.

E não dá mesmo pra crer em algo assim, né não?

Então, eu não acredito nos ateus.

Definitivamente.