HORS-CONCOURS



Escrevo os porquês
Dos sonhos de quem não vive.

Meus também, sobretudo.
Eu primeiro, inclusive.

Queria não escrever...
Não sonhar...
E viver.

Ah!

PARADOXAL



É o que a Bíblia diz.

Foi Deus Quem nos escolheu, e não nós a Ele.

Ah, e se nos decidíssemos agora a negá-Lo? Estaríamos sendo negados também?

E depois, se nos arrependêssemos, voltando? Seríamos trazidos?

E no final – negados ou não, arrependidos ou não – afinal, somos nós ou não?

Em sendo Deus, segue-se que Ele tudo sabe.

Sabe-se que Ele tudo pode.

E nós não.

Porém, é fato, que sem culpa não há que se falar em punição.

Mas você também ou só eu, já sentiu cada vez mais distância quanto mais se achegava?

E por quê?

Não é curioso – ou, no mínimo, irônico – que tendo sido trazidos a este mundo por Ele, para sermos d’Ele, acabemos por sair daqui sem tê-Lo?

Assim, o que seria minha aproximação tornar-se-ia meu banimento.

Paradoxal.

Como a beleza que destrói, da figura acima.

E, pois, é isto mesmo o que eu sou, e somos, apenas:

Uma figura.
“Se for eu, ensina-me!
Se fores Tu, conduzes-me!
Pois no fim, tudo é mesmo Teu;
Tudo é mesmo em Ti!”

NIRVANA




Ah, os japoneses!

Sempre à frente do seu tempo!

Que inveja, meu Deus!

Quem sabe um dia todos nós não chegamos lá também, hã?

E, como eles, acabamos de vez com as outras religiões!

EM CARTAZ



Numa igreja perto de você!

UNI-DUNI-TÊ... (Parte 1)





E o que é que isto muda?

Muita gente prefere outros povos aos europeus também.

MEUS MAIS SINCEROS VOTOS



Está aberta a temporada de caça aos votos dos eleitores em todo o país.

Este ano elegeremos prefeitos e vereadores.

E muitos irmãos (ou não) entre eles também, certamente.

Assim, aproveite!

Não é sempre que vamos ver os homens do colarinho branco comendo pastel de carne e tomando caldo de carne nos botecos e bares que normalmente nós freqüentamos.

Não será sempre (ou quase nunca) que nossas criancinhas serão beijadas por eles, e muito menos nossos idosos receberão abraços acalorados (talvez nem vivam tanto mais para uma próxima vez, coitados).

Agora sim, é bem provável que, depois de esperar numa fila do SUS desde as 04 horas da manhã, você seja premiado com a visita solene de um desses “homens da televisão”. E ele poderá até conversar um pouquinho com você. E você aparecerá na televisão, no horário eleitoral! E todo mundo (sic) da sua rua vai vê-lo(a)!

Você vai acabar indo embora pra casa, depois de mais umas duas horas de espera, sem atendimento, é verdade, mas isto talvez valha a pena.

Não?

Mas é óbvio que, como não poderia deixar de ser, nossos cultos e congressos serão lembrados também. Talvez há tempos nossos altares não são tão ilustremente visitados.

Pois, prepare-se para ver os “seu dotô” freqüentando nossas reuniões noturno-dominicais, com Bíblia debaixo do braço e tudo.

Não vai ser surpresa alguma vê-los subindo nos púlpitos (ou palanques?) e, dentre um “aleluia” e outro, fazerem declarações apaixonadas de amor ao povo evangélico, à fé cristã, prometendo coisas nunca antes vistas, dignas apenas da Nova Jerusalém.

Eles vão decorar versículos bíblicos. Não muitos, na verdade. Aqueles mais bonitos.

Alguns vão lembrar – e vão cantar – de algumas linhas das estrofes de corinhos tradicionais simples (que serão entusiasticamente acompanhados pelos “ministros de louvor”).

Depois vão contar testemunhos emocionantes de orações que a mãe, a avó ou uma tia que morreu há anos fazia por eles, e que essas pessoas lhes deixaram valores cristãos que, segundo eles, permeiam até hoje todos os princípios éticos que podem ser vistos (sic) em toda a sua trajetória pública e política, em todos esses anos.

Aí, a partir daquele momento, vai por mim: glorifique muito a Deus, se os ouvir falar d’Ele mais alguma vez!

E tome blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá...

Uns vão se converter. Em várias igrejas, inclusive.

Aliás, pra ser mais sincero, é bem provável que se convertam em várias religiões.

Sim, porque, é só verem terminada a agenda política entre os evangélicos, e eles partirão para as paróquias e para os terreiros, convertendo-se cá e acolá também.

Eles sabem que esse sensacionalismo emocional todo ilude muita gente.

Afinal, nós, cristãos, somos de um potencial eleitoral muito grande.

E ficamos tão alegres quando vemos “o mundo reconhecendo a Cristo”, não é?!

Mesmo que Jesus tenha dito que não, que isto jamais aconteceria.

(Ele deve ter se enganado, ora bolas!)

Lembro-me, por exemplo, que dois dos maiores líderes da denominação a que eu pertencia anos atrás, eu só via em épocas como esta.

Nos anos seguintes, eles nem apareciam (possivelmente estavam muito ocupados com os cargos políticos que lhes demos).

Mas era vencerem seus mandatos, e eles, ufa!, conseguiam um tempinho para aparecerem de novo, com suas mensagens “abençoadoras” e seu carisma “irresistível”.

Reeleitos, sumiam de novo.

Mas eles sempre voltam.

Lembro-me também de um congresso, já tradicional por aqui, há muitos anos atrás, quando dezenas de pastores impunham as mãos sobre a cabeça de um desses políticos de projeção nacional que viera à procura de votos dos crentes, prometendo-lhes, literalmente, mundos e fundos.

Lembro-me de sua “conversão” ali...

Tsc, tsc, tsc...

Como somos tolos!