Penso que depois da vergonha do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, pelo qual satanás conseguiu fazer com que homem e mulher passassem no Jardim, nenhuma outra conquista dá a ele tanta realização e resultado quanto a desgraça da religião.
Como mera ideologia, filosofia ou prática ortodoxa, a religião é uma praga, disseminada entre os povos, e uma afronta pessoal a Deus, que é Quem mais “sofre” com tudo isto.
Não que Deus, em Si mesmo, possa ser lesado em alguma coisa, ou perder algo. Deus é pleno e nada Lhe pode ser subtraído, de fato.
Mas a religião torna Deus um ser platônico, surreal, impessoal e frouxo.
Isto partindo do pressuposto de que falamos de um mesmo Deus. Sim, porque até disto a religião é capaz: inventar “deuses”, outros, e dar a eles o mesmo nome – Deus – como se tantos houvesse, e – muito pior – reivindicando para “cada um” a mesma identidade, dizendo que todos, ao final, dizem respeito a um só.
Pois eu digo então que inda que falássemos de um só, pela religião, ou melhor, pelas religiões esse “Deus” é um bocó. Trata-se de um deus lerdo, sem princípios definidos, sem fundamentos, mais fraco que o homem, carente, mesquinho... Enfim, um DEUS BOCÓ mesmo.
E isto é algo de que o diabo se orgulha muito.
A religião dá aos homens status de religiosos, de piedosos e, quando estão em seu mais alto grau de fidelidade, de praticantes, mas, em tudo isto, tanto um (homem) quanto o outro ("Deus") são nada menos que nada.
O homem, conformado de ter o seu “Deus”, nada mais faz, senão dizer que “crê em Deus”. E “esse Deus”, que não existe mesmo, não reclama de nada, não se importa com nada, e acha tudo normal, tudo bem.
Na escola dos idos primários, nossos professores de Educação Religiosa nos ensinaram que “Religião” é do latim religare, que significa o ato do homem se ligar novamente a Deus.
Ótima definição! Mas péssima iniciativa!
Porque a grande desgraça da humanidade está em exatamente não entender que o contrário, para Deus, é que tem sentido e significado reais. Não é o homem que se “religa” a Deus, mas Deus é Quem promove e executa essa ação.
É esta inversão de valores que tornou Deus um ser dispensável para o processo de existência humana, e, não menos catastrófico, substituível por uma simples consciência limpa e/ou uma conduta moral mediana. É no que se resume a religião dos homens.
Ora, Deus é católico? Deus é espírita? Deus é muçulmano? Deus é evangélico?
Deus não é nada disto. Deus é ANTES de tudo isto.
Pois então, com a mesma presteza de raciocínio, respondam-me: de que adianta ser católico, espírita, muçulmano, evangélico ou qualquer outra coisa? É o bastante ter uma religião?
Ora, mas é claro que não!
A primeira coisa que a religião, seja ela qual for, faz é definir a Deus. Cada uma delas tem o “seu Deus”, com muitas características diferentes, e – não raro – até contradizentes. Isto criou e continua criando um “leque de opções” enorme.
Deus, hoje em dia, pelo menos em tese, ainda é um só (embora tenha diferentes nomes, formas e personalidades por aí). É isto, pelo menos, o que se defende.
Mas, na prática, ou “Deus” vive uma crise de identidade sem precedentes, sem saber direito o que quer, ou “ele” é um banana mesmo, que tolera tudo, aceita tudo e não tem escrúpulos.
Um exemplo de que “Deus”, na religião, é um ser completamente despersonalizado, está nos conceito, nos dogmas que são defendidos “em nome de Deus”. Senão vejamos:
Para uns, todo mundo vai para o céu; basta morrer. Para outros, o segredo é viver e bastante! Às vezes, muitas vidas até.
Há aqueles que dizem que somente eles vão para o céu. E outros têm certeza que não vão.
Tem os que dizem que o céu será aqui, e os que afirmam o contrário: será lá! Enquanto para outros, não há sequer um céu acolá. Sobre o inferno, idem.
“A saia tem de ser lá embaixo, pra lá do calcanhar.”
“Não, o que importa é o coração!”
E em tudo isto, “Deus” está.
E, às vezes, não está, estando...
Sim, porque a diversidade é tanta que tem lugar também para aqueles que não falam em Deus, falando. Aqueles que crêem em Deus, não crendo. Uma espécie de “fé incrédula” ou “incredulidade crente”. Esta é, embora não se admita, uma religião também, a qual eles chamam “Ateísmo”.
Lá, “Deus” não tem este nome. Ele sequer tem um nome lá. Se você perguntar, a resposta é sempre “Deus não existe”. Ora, mas como não existe se se fala n’Ele?
Imagine algo que não exista. Agora afirme que não exista! É possível isto? Se não existe, não há como imaginá-lo para negar sua existência. Se não existe, não há sequer como imaginá-lo! E para que negá-lo, se não existe? Aliás, negar o quê?
O mínimo que essas pessoas deviam fazer é dizerem que crêem num “Deus Ausente” então, e este seria o seu nome (muito mais propício), como há tantos outros, em tantos outros lugares, e que não admiti-lo é seu dogma, sua doutrina.
Mas é bem provável, entretanto, que, num momento de distração deles (porque é impossível que consigam estar sempre concentrados nesta bobagem, sem nunca desviarem a atenção ou divagarem fortuitamente pelos pensamentos normais dos homens sensatos), é bem provável, repito, que você os pegue dizendo (ainda que a si mesmos): “Sou ateu... graças a Deus!”.
Convenhamos, gente: para não se crer em Deus é preciso ter muita, muita fé!
Mas a religião é capaz de aberrações assim também.
O homem não pode, por seu próprio esforço, ligar-se novamente a Deus, porque, simplesmente, seu esforço denotará merecimento, o que faz de Deus um mero recompensador, menor que o homem, portanto.
O esforço do homem implica em exercício voluntário e intenso de sua própria vontade, e isto é absolutamente adverso a tudo o que Deus mesmo planejou e sempre requereu do homem, que é, nada mais que, dependência total d’Ele.
E o dependente não exerce vontade própria.
Assim, o homem não pode (e não vai), em momento algum, conseguir restaurar, por si só, o vínculo quebrado com Deus, por que, paradoxalmente, o esforço humano faz exatamente o contrário do que o vínculo original pretendia.
Este foi o vínculo quebrado e, obviamente, só será restaurado quando esta dependência irrestrita for reconquistada pelo homem junto a Deus.
No meio do fogo cruzado das muitas opiniões, dogmas, valores, princípios, conceitos e ideologias, Deus segue acompanhando tudo, mas de fora, Incorruptível e Imutável.
O homem, por sua vez, vai morrendo aos poucos, enquanto segue satisfeito com seu estado religioso ou anti-religioso, como o queiram, praticante ou não. Como diria uma famosa propaganda de cigarros, “cada um na sua, mas com uma coisa em comum”, qual seja: todos se julgam ter uma porçãozinha que seja da razão. Entretanto, assim como a gota de água do mar está longe de ser o próprio mar, embora tenha a ver com ele, essas filosofias não podem representar a Deus plenamente.
Mas há Alguém, entretanto, que pode: Jesus.
“ ... desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra...”
(Efésios 1:9,10)
“... (Cristo) em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”
“... porque nele (Jesus) habita corporalmente toda a plenitude da divindade...”
(Colossenses 2:9)
“Ele (Jesus) é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser...”
(Hebreus 1:3a)
Há ainda um texto mais, em II Coríntios 2:18,19 que diz:
“Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.”
Que vem a ser isto senão a RELIGIÃO em sua definição mais etimológica e aspecto mais prático possível?!
Vejam que maravilha! Deus, não nós, se religou ao homem (claramente expressado nas palavras “reconciliou”, “reconciliação” e “reconciliando”). Então, se há verdadeira religião, ela não é outra senão que Cristo nos religou a Deus!
Podem contra-argumentar que isto é mera especulação, uma convenção. Mas uma análise mais sincera resultará, na realidade, em uma maravilhosa constatação.
Jesus nunca fez a Sua própria vontade e sim a de Deus. O exemplo mais clássico disto é quando estava no limiar da morte, no Jardim do Getsêmani, e orou, revelando a Deus, o que Sua vontade queria, mas pedindo, sobretudo, pela do Pai.
Isto porque Ele sabia (e como!) que Deus pretendia restaurar o vínculo quebrado com o homem, qual seja, o de ele depender de Deus (vínculo este quebrado exatamente quando este homem escolheu fazer a própria vontade no Éden). E recusou-Se a cometer o mesmo erro.
Fez a vontade do Pai, em detrimento da Sua.
Jesus não foi apenas um profeta, um líder espiritual, um guru ou um mestre, como o chamam. Ele não tinha características que o credenciassem a isto. Ele afirmava veementemente que era o Filho de Deus e, ainda mais impressionante, o próprio Deus! Ora, isto só fazia d’Ele uma entre duas possibilidades: ou louco, ou Deus.
Ou Ele era um maluco desvairado que Se auto-afirmava Deus, ou Ele só podia ser mesmo o próprio Deus. E quem quer que O considere, ainda que, no mínimo, como personagem histórico, tem de escolher entre essas duas alternativas apenas.
Além de tudo, se era um louco, o que O faz ter, por parte dos homens, tanta projeção e crédito como sempre os teve? Nunca conheci nenhum louco que fosse tão intrigante, tão influente e tão proeminente como Ele. Nunca vi uma loucura tão lúcida, na verdade! Veja as coisas que Ele falou! Leiam Seus discursos! Não há nada tão contundente e inquietante.
E por este louco, dividiram a história, vejam só! Realmente não dá pra entender. Quem será realmente louco: Ele ou nós?
Nem os fundadores das religiões, nem as grandes mentes pensadoras de nossa história conseguiram feito semelhante. Quem é este Homem? Um louco?
Bem, quem quiser arriscar-se que se arrisque!
Quanto a mim, não! Prefiro crer que Jesus é o Filho de Deus, encarnado entre nós, santo e puro, para nos reconciliar com Deus, coisa que o homem e suas religiões jamais serão capazes de fazer.
Por tudo isto, podíamos bem dizer que Jesus é uma espécie de religião, sim, mas uma “Religião de Deus”, onde Ele próprio, Deus, “Se esforça”, em Cristo, para se religar a nós! E só através de Jesus é que eu posso ter acesso a Deus!
Mas, diferentemente do que se possa concluir, nesse jogo de interesses de Deus pelos homens, onde é Ele Quem busca ativa e intensamente reconquistar os homens, enquanto estes, muitas vezes estão passivos e indiferentes, quem perde de fato, quanto mais o tempo passe, são os homens.